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sábado, março 29, 2008

Portishead no Coliseu dos Recreios

Há muito aguardados quer em disco quer ao vivo, os Portishead encontraram um Coliseu dos Recreios a rebentar pelas costuras para assistir ao segundo concerto da mais recente tournée do grupo. A digressão de promoção a "Third", o novo álbum começou em Portugal, com o concerto do Porto. Esta noite foi a vez da capital receber a banda de Bristol, na sua sala emblemática. E esta é sem dúvida o tipo de enquadramento perfeito para a música e para os ambientes criados pelos Portishead.

Dentro da densidade sonora que lhe é característica, o grupo contrariou o rótulo de "urbano-depressivo" que muitas vezes lhe é atribuído, oferecendo aos fãs um grande espectáculo, denso, sim, mas em intensidade, qualidade na prestação e inteligência na escolha do alinhamento. A isso os Portishead juntaram arranjos que tornaram mais orgânica a apresentação dos temas, contando, para tal, com mais três elementos em palco, além do trio habitual. Os contornos cromáticos das diferentes sensações produzidas pela música mereceram também especial cuidado na selecção das imagens projectadas e nos jogos de luzes, alternando entre o preto e branco, o azul glaciar e o vermelho, algo que contribuiu significativamente para reforçar a vivacidade das composições.

Beth Gibbons, a figura central, apresentou-se de forma descontraída e com, pelo menos, três copos à sua disposição. Mesmo sem muitas palavras dirigidas ao público - as poucas foram completamente abafadas pelo barulho da assistência - foi em si que se centraram as atenções e foi na sua voz que se viram reflectidos os diferentes condimentos que as variações instrumentais iam oferecendo.

'Silence', a primeira de "Third" e a primeira a ser interpretada viu reforçados os aplausos mal Gibbons começou a cantar. Mas seria com a evocação de "Dummy", o disco de estreia dos Portishead, através de 'Mysterons' e 'Glory Box' que se sentiria em força o delírio do público. 'Numb' continuaria a aplacar o saudosismo trazendo à tona o djiing típico nos temas antigos dos Portishead, agora um pouco arredado do novo trabalho, em prol da bateria e das guitarras. Mas a banda também quis mostrar que pode despir de sintetizadores e samples os seus primeiros temas como fez em 'Wandering Stars', assegurada apenas por Gibbons, Barrow e Utley, num triângulo composto por voz e duas guitarras.

'Machine Gun', o single de "Third", voltaria depois para repor a nova força que os Portishead quiseram imprimir no irmão mais velho da sua discografia. Já em sexteto foi tempo de recordar também o irmão do meio, o segundo disco homónimo do grupo, e o pendor amargamente insinuante da sua música, com 'Over'. 'Sour Time' , 'Only You' e a pesada 'Cowboys' continuaram a esbater o hiato de dez anos de ausência da banda.

Das novas, 'Threads' e 'We Carry On', que fechou o concerto, foram guardadas para o final, adoçadas por 'Roads', no meio. Entre a guitarra de 'We Carry On', Gibbons conseguiu finalmente descer junto de público, depois de uma primeira tentativa frustrada por um dos elementos do seu staff. Na despedida mal se percebeu o que disse, mas foi bem notória a satisfação com este arranque de tournée em terras lusas.

A abrir para os Portishead estiveram os A Hawk and a Hawksaw, em formato de quarteto, que cativaram o público com a sua música de leste com raiz húngara. De várias cores e andamentos, se fez o desfile das melodias de inspiração tradicional que o grupo trouxe, ele que colaborou com os Beirut no seu primeiro disco e que certamente não ficaria mal se a estes se juntasse no FMM de Sines.

in Cotonete.

Rita Redshoes + Shout Out Louds na Aula Magna

Um pouco depois da hora marcada Rita Redshoes subiu ao palco da Aula Magna para abrir esta estreia dos Shout Out Louds em Lisboa e mostrar que a noite também era um pouco dela e dos temas que compõem o seu interessante disco de estreia, "Golden Era". Poucos minutos depois de Redshoes começar a tocar percebeu-se que para o muito público que compunha a sala lisboeta a curiosidade era a palavra de ordem. 'Dream on Girl' e 'Hey Tom' confirmaram-se como verdadeiros singles. Já 'Minimal Sounds' mostrou uma intérprete prestes a atingir o melhor do seu talento e confiança. A fechar, e com imprevisto encore, uma versão do clássico 'Lonesome Town' de Ricky Nelson. Talvez a experiência da estrada traga um pouco mais de arrojo às canções de "Golden Era", mas já é de ouro esta revelação a solo da ex Atomic Bees.

Magrinhos, menos loiros que o esperado e tímidos à sua maneira foi a primeira impressão que os Shout Out Louds deram ao público lisboeta. A abrir 'South America', a 8ª faixa do último e segundo disco, "Our Ill Wills", o pretexto para uma Aula Magna bem recheada ao estilo de festa privada. O vocalista Adam centra em si as atenções gerais, com a ajuda do baixista Ted. A compôr o trio de cordas, Carl segura a sua guitarra bem em cima como um colegial que começou a tocar agora. Atrás, mais discretos apesar de elevados por plataformas, a teclista Bebban e o baterista Eric, riem-se várias vezes um para o outro durante os temas. Assim é a moldura em palco deste quinteto sueco que faz música festiva sobre desilusões.

'Very Loud' do primeiro disco "Howl Howl Gaff Gaff" põe o carimbo definitivo no passaporte para a festa. 'Parent's Living Room' dá a ideia de pós-adolescentes que se juntaram para fazer música há bem pouco tempo. Como se fosse a primeira vez. Por esta altura, Ted agradece aos «amigos portugueses» que lhes emprestaram as guitarras porque as suas ficaram retidas na Itália. O público gosta da confissão e eles respondem com 'The Comeback', seguida do interessante 'Impossible'.

O diálogo estava aberto e 'You Are Dreaming' segue-se com perfeita adequação já que contém uma pequena referência a Portugal. «É sobre uma namorada do Adam que viveu aqui um ano», tinha-nos dito Eric pouco antes do concerto. Boas memórias esperemos. 'Shut Your Eyes' é uma inesperada revelação em palco, com a voz de Adam a colar-se ainda mais à de Robert Smith. Assim uma espécie de versão "betinha" do vocalista dos Cure.

'Go Sadness' é tocada apenas por Adam e Bebban e escapou à assistência portuguesa que é um símbolo adolescente na América, pela sua utilização na série "O.C.", porque no ar começava a sentir-se a expectativa pelo tema que levou a maior parte daquelas pessoas à Aula Magna. E não tardou a chegar, já com toda a sala em pé. 'Tonight I Have to Leave It', o primeiro single de "Our Ill Wills" é também banda sonora associada aos tão populares telemóveis no nosso país. Animado, o público comemora, com Adam a circular pelo meio das Doutorais. E assim se fazem hinos modernos.

E porque a festa não acaba sem um encore, os suecos regressam felizes para interpretar 'Please Please Please' e 'Hard Rain', numa refrescante improvisação final. Ao ver os Shout Out Louds em palco talvez fique mais fácil entender o porquê da recente invasão sueca na música moderna. Sem talento para grandes virtuosismos técnicos e precisamente pela necessidade de arranjos fáceis e imediatos, os temas fluem num tom de pop com laivos de rock tão solto que deixa atrás de si aquele rasto de quem está a fazer apenas o que quer, uma espécie de manifesto libertário naive. E apesar de toda a gente ter ido para casa apenas com o solo inicial de 'Tonight I Have to Leave It' na cabeça, que fique bem claro que pela Aula Magna passou algo mais do que isso.

in Cotonete.

quinta-feira, março 20, 2008

O show de Alicia Keys


A noite era de festa, afinal estávamos perante a estreia em nome próprio no nosso país de uma das cantoras norte-americanas de maior sucesso da actualidade. Com o pretexto de apresentar o disco "As I Am", o mais bem sucedido, até à data, em território luso, Alicia Keys trouxe a sua voz soul e o seu piano ao Pavilhão Atlântico, que lotou para a receber.

Em pleno Dia do Pai, as mulheres estavam presentes em clara maioria, no entanto, havia, também, muitas famílias na sala lisboeta. Com o público em polvorosa, surgem no ecrã gigante instalado ao fundo do palco imagens de um coro gospel a actuar numa igreja. Estava dado o mote para uma noite cheia de poder e garra soul, pop e r'n'b, ao melhor estilo norte-americano. Depois de uma pianada introdutória, a diva entra finalmente em palco, visivelmente mais madura e de sorriso no rosto. Durante mais de duas horas Alicia Keys brindou os portugueses com três dezenas de músicas e o talento nato que a sua formação com forte vertente musical de cariz, sobretudo, clássico, esculpiu, como se de um diamante se tratasse. Consigo trouxe uma poderosa banda e diversos bailarinos.

Ao vivo e a cores, a entrega de Keys é algo incontornável e, ao contrário de muitas outras estrelas pop, não se limita a recriar aquilo que oferece em disco. Os novos arranjos, a oscilar entre a soul, pop, funk e até os ritmos latinos, sempre com pinceladas de jazz, imprimem às músicas um tom ora mais festivo, ora mais confessional. A ligação ao piano é cada vez menos umbilical e, ao contrário do que acontecia no início de carreira, Alicia passeia-se bastante pelo palco e arrisca alguns passos de dança com os bailarinos. Os momentos de festa com toda a banda e os instantes mais intimistas apenas com a artista ao piano formam um todo coerente e absolutamente irresistível, mesmo que os arranjos nem sempre sejam os mais felizes. Como seria de esperar "As I Am" dominou o alinhamento do espectáculo, com temas como 'Where Do We Go From Here' e o hino feminista 'Superwoman' a ecoarem na sala, intercalados com músicas dos discos anteriores, "MTV Unpplugged", "The Diary Of Alicia Keys" e "Songs In A Minor", que a apresentou ao mundo. Dos êxitos não faltou nenhum, de 'You Don't Know My Name' a 'How Come You Don't Call Me', passando por 'My Boo' (com Usher no original), 'Diary' e 'Unbreakable'.

A dedicação de Alicia Keys a causas humanitárias é conhecida e não ficou de fora do espectáculo. Enquanto o ecrã mostrava imagens ligadas à luta contra a SIDA, a cantora interpretava 'Send Me An Angel' e dizia que «todas as pessoas precisam de um anjo». A balada 'Like You'll Never See Me Again', e a poderosa 'A Woman's Worth' originaram dois dos mais belos momentos da noite, enquanto as maiores explosões da parte do público surgiram com as interpretações de 'Karma' e do delicioso 'Fallin'', cantadas a uma só voz. O final, em absoluta apoteose, fez-se ao som do obrigatório 'No One' e da deliciosa 'If I Ain't Got You', que a cantora dedicou ao público.

A pequena rapariga de Manhattan que tem a mais valia de aliar o trabalho árduo ao talento já não é nenhuma teenager, ainda assim, a sua postura, de um profissionalismo ímpar, continua a desmentir a sua idade. Os muitos singles de sucesso, onze prémios Grammy e vendas na ordem dos vinte e muitos millhões de discos são disso prova, os concertos esgotados mundo fora também. Alicia Keys nunca escondeu que um dos seus sonhos é levar a sua música ao maior número possível de pessoas. Se esta "superwoman" ainda não alcançou esse feito, deve andar lá perto.

A primeira parte do concerto esteve a cargo de Patrice. O músico afro germânico veio apresentar o seu mais recente trabalho, "Raw and Uncut", no entanto, foram os êxitos mais antigos, como 'Soulstorm', que maiores ovações receberam.

O alinhamento do concerto foi o seguinte:
Ghetto Story
Waiting for Your Love
Where do We Go From Here
You Don't Know My Name
Teenage Love Affair
Lady Marmalade (pelos cantores de apoio)
Got to Be There
Heartburn
Sure Looks Good to Me
How Come You Don't Call Me
Butterflyz
Goodbye
Send Me an Angel
Superwoman
I Need You
Wreckless Love
Diary/Tender Love
My Boo
Unbreakable
Like You'll Never See Me Again
Gotta Give it Up/Soutrain
Feeling U, Felling Me
Go Ahead
A Woman's Worth
Lesson Learned
So Simple
Karma
The Thing About Love
Fallin'
No One

Encore
If I Ain't Got You

in Cotonete.

quarta-feira, março 19, 2008

Róisín Murphy no Optimus Alive!08


A sra Róisín Murphy é mais um dos nomes a actuar na ediçáo deste ano do Optimus Alive!08.

A antiga vocalista dos Moloko, que imortalizou clássicos como 'Sing It Back', 'The Time Is Now', 'Familiar Feelings' e 'Forever More', apresenta-se no festival lisboeta a 12 de Julho, o mesmo dia em que teremos por cá os fabulosos The Gossip.

Pois que a bela Róisín vai trazer na bagagem os seus dois discos, "Overpowered" (2007) e "Ruby Blue" (2005) e temas absolutamente irresistíves como 'So Into You', 'Ramalama', 'Overpowered', 'If We're In Love', 'Let Me Know' e o novo single, 'You Know Me Better'. De referir que o disco mais recente foi co-produzido pela própria Róisín e contou com a colaboração de diversos nomes sonantes ligados à pop de cariz mais electrónico, como Bugz In The Attic, Andy Cato (Groove Armada) e Richard X.

So far... o cartaz confirmado para o Optimus Alive!08 é o seguinte:

10 de Julho
Rage Against The Machine
Gogol Bordello
Cansei de Ser Sexy
The National
Spiritualized
Sons of Albion
Peaches (DJ Set)

11 de Julho
Within Temptation
Chris Cornell

12 de Julho
Neil Young
Ben Harper & The Innocent Criminals
Donavon Frankenreiter
The Gossip
Róisín Murphy

segunda-feira, março 17, 2008

O início da era dourada

Já está nas lojas aquele que se arrisca a ser um dos melhores discos do ano, no que à música de produção nacional respeita: "Golden Era", de Rita Redshoes, alter-ego de Rita Pereira.
A escolha do nome, já se sabe, é inspirada no imaginário d' "O Feiticeiro de Oz" e em David Bowie. As influências para o álbum vão do cinema americano dos anos 60' à música dos anos 80'.

E que bom é ouvir os doces lamentos e as músicas inspiradas em viagens ou no amor, pequenos fragmentos das emoções e vivências da autora, canções rock associadas a uma ideia de feminilidade, entre o intimista e o 'uptempo'. 'Dream On Girl' e 'Hey Tom' são os temas que já se conhecem e os exemplos perfeitos desses dois universos. 'Dream On Girl' foi, de resto, a sua primeira afirmação, dada a conhecer pela colectânea “Novos Talentos – FNAC 2007”, um tema que rapidamente mereceu destaque nas rádios nacionais e que foi considerado por vários orgãos de comunicação como um dos melhores de 2007.

Em "Golden Era", Rita Redshoes assegurou, além da composição, os teclados, o piano e algumas guitarras, acompanhada pelo ex-Atomic Bees Filipe Monteiro (guitarra), Nuno Simões [da banda de suporte de David Fonseca] (baixo e contrabaixo) e Sérgio Nascimento [ex-Humanos, Sérgio Godinho e David Fonseca] (bateria e percussões). A produção foi dividida entre a própria Redshoes e Nelson Carvalho.

Redshoes foi baterista no grupo de teatro "ITA VERO", assumiu os comandos vocais nos Atomic Bees, tocou baixo no grupo Rebel Red Dog e piano no projecto Photographs. Actualmente é teclista na banda de suporte de David Fonseca [recorde-se que emprestou a voz a 'Hold Still', do disco "Our Hearts Will Beat As One"].

Da agenda de Rita Redshoes para os próximos tempos, destaque para as primeiras partes dos espectáculos dos suecos Shout Out Louds [26 de Março, na Aula Magna, Lisboa] e de David Fonseca, um dos primeiros a conhecer as músicas de "Golden Era" [12 de Abril Coliseu de Lisboa].

O alinhamento completo de "Golden Era" é o seguinte:

01. To Start...
02. The Beginning Song
03. Hey Tom [video]
04. Choose Love
05. Oh My Mr. Blue
06. Golden Era
07. Once I Found You
08. Dream On Girl [video]
09. Blue Bird On A Sunny Day
10. Minimal Sounds
11. Your Waltz
12. Love, What is It?
13. Love Is, Love You

A new star is born!

domingo, março 16, 2008

Once... in a lifetime!

A 31 de Março chega finalmente às lojas nacionais a banda-sonora do filme "Once", o low budget que comoveu o público e a crítica.
É desse disco que consta o hino à esperança, o arrepiante, profundo e comovente 'Falling Slowly', que rendeu a Glen Hasard e Marketá Irglová, que também protagonizam a película, o Óscar da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, na categoria de "Melhor Canção Original".

"Once" foi realizado por by John Carney. As filmagens aconteceram em Dublin, com Glen Hansard [músico dos irlandeses The Frames] e Markéta Irglová a vestirem a pele de dois jovens músicos. A dupla assina a quase totalidade da trilha sonora, excepção feita a um tema.
O filme teve um orçamento de apenas 130.000 euros, no entanto alcançou um êxito considerável nas salas de cinema, recebeu críticas entusiásticas e diversos prémios, como o Independent Spirit Award para "Melhor Filme Estrangeiro", além do Grammy para "Melhor Canção Original" e da nomeação para "Melhor Banda Sonora", igualmente nos Grammys.

O alinhamento completo da banda-sonora de "Once" é o seguinte:

01. Glen Hansard and Markéta Irglová - Falling Slowly
02. Irglová and Hansard If You Want Me
03. Hansard - Broken Hearted Hoover Fixer Sucker Guy
04. Hansard and Irglová - When Your Mind's Made Up
05. Hansard and Irglová - Lies
06. Interference - Gold
07. Irglová - The Hill
08. Hansard - Fallen from the Sky
09. Hansard - Leave
10. Hansard - Trying to Pull Myself Away
11. Hansard - All the Way Down
12. Hansard and Irglová - Once
13. Hansard - Say It to Me Now



Letra completa aqui e entrega do Óscar aqui.

segunda-feira, março 10, 2008

Cure: viagem ao melhor dos 80's

«Dos anos oitenta saíram inúmeros "tesourinhos deprimentes", no que à área musical respeita. Os The Cure não se encaixam, indubitavelmente, nessa fileira. As três décadas de carreira têm-lhes garantido sucessivas salas esgotadas, tal como aconteceu este Sábado durante três horas de espectáculo, num Pavilhão Atlântico a rebentar pelas costuras, quase duas décadas após a estreia do grupo em Portugal, no Estádio de Alvalade.

Verdadeiras lendas da iconografia pós-punk e, outrora, considerados os reis do gótico e do alternativo, os The Cure mostraram que o palco é o seu reduto. Vestidos de negro, confiantes, divertidos e com a maquilhagem da praxe, Robert Smith (voz e guitarra), Porl Thompson (guitarra), Simon Gallup (baixo) e Jason Cooper (bateria) entraram em palco de mansinho, ao som de 'Plainsong' e 'Prayers For The Rain', os dois primeiros temas da noite. Rapidamente conquistaram o público presente, composto, na sua maioria, por conhecedores do percurso musical do grupo. A média de idades devia, certamente, rondar os 30 anos, pessoas que claramente cresceram a ouvir os doces lamentos e o som descomplexado do grupo. A rebeldia terá ficado nos 80's, já que, nos dias de hoje, a sobriedade no vestuário é a nota dominante. Ainda assim, avistam-se alguns grupos de góticos na assistência.

A aparente frieza de Robert Smith, que poucas vezes se dirigiu ao público entre uma e outra música, e raramente para mais do que os "obrigados" da praxe, não parece ter incomodado ninguém, já que, era para ouvir as músicas da banda que ali se encontravam. O mítico vocalista dos Cure continua igual a si próprio: a mesma voz poderosa, o cabelo desgrenhado e a maquilhagem, que são a sua imagem de marca. Só uns quilinhos a mais denunciam a passagem do tempo.

A noite era dada a nostalgias. A contemplação era visível. Sensivelmente até meio do espectáculo, a letargia era geral mas, aos primeiros acordes de 'Lovesong', a loucura instalou-se, prolongando-se até aos derradeiros instantes do concerto. Clássicos incontornáveis da música pop rock de cariz alternativo, como 'Lullaby', 'Friday I'm In Love', 'Close To Me', 'In Between Days', 'Killing An Arab', 'Just Like Heaven' ou 'Boys Don't Cry' fizeram as delícias dos seguidores do colectivo britânico. Os temas antigos foram intercalados com alguns mais recentes, do 13º disco de originais, a editar em breve, numa noite para celebrar e recordar o melhor dos 80's.

E pensar que Robert Smith quase se suicidou no passado, só para que o percurso da banda acabasse em apoteose. Ainda bem que não o fez. A sua contribuição para a história da música é inquantificável, o seu legado é eterno.

O alinhamento do concerto foi o seguinte:
Plainsong
Prayers For The Rain
A Strange Day
Alt.End
The Blood
The End Of The World
Love Song
A Boy I Never Knew
From The Edge of a Deep Green Sea
Kyoto Song
Please Project
The Walk
Push
Friday I'm In Love
In Between Days
Just Like Heaven
Primary
Never Enough
Wrong Number
One Hundred Years
Disintegration

Encore 1
At Night
M
Play For Today
A Forest

Encore 2
Lovecats
Let's Go To Bed
Freak Show
Close To Me
Why Can't I Be You

Encore 3
Boys Don't Cry
Jumping Someone Else's Train
Grinding Halt
10.15 Saturday Night
Killing An Arab»

in Cotonete

quarta-feira, março 05, 2008

Sara Bareilles – Little Voice

Corria o Verão de 2007 quando uma tal de Sara Bareilles tomou de assalto o top de álbuns do iTunes, com o disco “Little Voice” e o single 'Love Song’.

O grupo de seguidores desta pianista autodidata, que tem sido comparada a Fiona Apple e Norah Jones, bem que tentou guardar este segredo, mas dois anos depois da artista ter assinado contrato com a Epic, uma subsidiária da Sony, viu “Little Voice” entrar directamente para o Nº2 do iTunes americano. Nas lojas o disco também não se tem saído nada mal: só nos EUA foram vendidas 16 mil cópias na semana de edição.

O longa-duração é o primeiro que a cantora de Redwood edita através de uma major, depois da demo independente “Carefull Confessions”, que co-produziu e editou em 2003, e que fez com que desse nas vistas e conquistasse uma considerável base de fãs, à conta de músicas como ‘Gravity’, ‘Fairytale’ e ‘Music Store’, entre outras. Parte dessas canções surgem também no disco, que vai chegar ao mercado nacional em Maio deste ano.

Sara Bareilles passou grande parte de 2007 em digressão por terras do Tio Sam a promover as suas inspiradas composições, abrindo concertos de Aqualung, Maroon 5 e Mika. Agora vai percorrer o mundo, para mostrar a todos as suas músicas sobre relações, inseguranças e batalhas interiores.


Fica o alinhamento de "Little Voice":

01. Love Song [vídeo]
02. Vegas
03. Bottle it Up
04. One Sweet Love
05. Come Round Soon
06. Morningside
07. Between The Lines
08. Love On The Rocks
09. City
10. Many The Miles
11. Fairytale
12. Gravity

Mais infos no site oficial e no Myspace da sra Bareilles.

terça-feira, março 04, 2008

Morcheeba - Dive Deep

Seis anos depois do best of "Parts Of The Process", o último com a voz de Skye Edwards, e três após "The Antidote", com a contribuição vocal de Daisy Martey, os britânicos Morcheeba estão de regresso com "Dive Deep".

O sexto álbum na carreira da, agora, dupla é um "mergulho profundo" ao encontro das preferências musicais de Paul e Ross Godfrey, do rock acústico ao pop melancólico, da folk ao hip hop, passando pelo rap, a soul ou a electrónica. Sem um vocalista permanente, o grupo resolveu apostar em colaborações com diversos artistas, como o rapper Cool Calm Pete, a cantautora britânica Judie Tzuke ou a francesa Manda - descoberta através da internet -, que contribuem para a criação de uma coesa manta de retalhos sonora e um certo piscar de olhos aos sons que produziram no passado.

Numa repetição da receita posta em prática por bandas como os Zero 7, os vocalistas parecem figurar aqui não por serem figuras conhecidas - até porque nem é o caso -, mas antes pelo que podem imprimir na sonoridade dos Morcheeba. Músicas com elementos rap, como 'One Love Karma', à partida improváveis no reportório do grupo, não destoam no conjunto. Especialmente felizes são, também, a versão de 'Run Honey Run', um clássico folk de John Martin (aqui na voz do novato Bradley Burgess), e os singles 'Enjoy The Ride' (com a voz da veterana Judie Tzuke) e 'Gained The World' (interpretado por Manda, que tinha como sonho trabalhar com os Morcheeba e que, para isso, contactou o grupo através do Myspace).

É no "risco" aparente, na fusão de sons, territórios e vozes supostamente díspares, que reside a singularidade do longa-duração. A mudança de direcção sonora patente em "Dive Deep" assenta que nem uma luva aos irmãos Godfrey e é servida com frescura e muita da genialidade que apresentaram nos primeiros álbuns, que os posicionaram nas mesmas fileiras trip hop de uns Massive Attack ou uns Portishead.

O alinhamento completo de "Dive Deep" é o seguinte:

01. Enjoy The Ride
02. Riverbed
03. Thumbnails
04. Run Honey Run
05. Gained The World
06. One Love Karma
07. Blue Chair
08. Au-Dela
09. Sleep On It
10. The Edge Beyond The Ledge
11. Washed Away

Crítica e entrevista in Cotonete.