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sábado, março 29, 2008

Portishead no Coliseu dos Recreios

Há muito aguardados quer em disco quer ao vivo, os Portishead encontraram um Coliseu dos Recreios a rebentar pelas costuras para assistir ao segundo concerto da mais recente tournée do grupo. A digressão de promoção a "Third", o novo álbum começou em Portugal, com o concerto do Porto. Esta noite foi a vez da capital receber a banda de Bristol, na sua sala emblemática. E esta é sem dúvida o tipo de enquadramento perfeito para a música e para os ambientes criados pelos Portishead.

Dentro da densidade sonora que lhe é característica, o grupo contrariou o rótulo de "urbano-depressivo" que muitas vezes lhe é atribuído, oferecendo aos fãs um grande espectáculo, denso, sim, mas em intensidade, qualidade na prestação e inteligência na escolha do alinhamento. A isso os Portishead juntaram arranjos que tornaram mais orgânica a apresentação dos temas, contando, para tal, com mais três elementos em palco, além do trio habitual. Os contornos cromáticos das diferentes sensações produzidas pela música mereceram também especial cuidado na selecção das imagens projectadas e nos jogos de luzes, alternando entre o preto e branco, o azul glaciar e o vermelho, algo que contribuiu significativamente para reforçar a vivacidade das composições.

Beth Gibbons, a figura central, apresentou-se de forma descontraída e com, pelo menos, três copos à sua disposição. Mesmo sem muitas palavras dirigidas ao público - as poucas foram completamente abafadas pelo barulho da assistência - foi em si que se centraram as atenções e foi na sua voz que se viram reflectidos os diferentes condimentos que as variações instrumentais iam oferecendo.

'Silence', a primeira de "Third" e a primeira a ser interpretada viu reforçados os aplausos mal Gibbons começou a cantar. Mas seria com a evocação de "Dummy", o disco de estreia dos Portishead, através de 'Mysterons' e 'Glory Box' que se sentiria em força o delírio do público. 'Numb' continuaria a aplacar o saudosismo trazendo à tona o djiing típico nos temas antigos dos Portishead, agora um pouco arredado do novo trabalho, em prol da bateria e das guitarras. Mas a banda também quis mostrar que pode despir de sintetizadores e samples os seus primeiros temas como fez em 'Wandering Stars', assegurada apenas por Gibbons, Barrow e Utley, num triângulo composto por voz e duas guitarras.

'Machine Gun', o single de "Third", voltaria depois para repor a nova força que os Portishead quiseram imprimir no irmão mais velho da sua discografia. Já em sexteto foi tempo de recordar também o irmão do meio, o segundo disco homónimo do grupo, e o pendor amargamente insinuante da sua música, com 'Over'. 'Sour Time' , 'Only You' e a pesada 'Cowboys' continuaram a esbater o hiato de dez anos de ausência da banda.

Das novas, 'Threads' e 'We Carry On', que fechou o concerto, foram guardadas para o final, adoçadas por 'Roads', no meio. Entre a guitarra de 'We Carry On', Gibbons conseguiu finalmente descer junto de público, depois de uma primeira tentativa frustrada por um dos elementos do seu staff. Na despedida mal se percebeu o que disse, mas foi bem notória a satisfação com este arranque de tournée em terras lusas.

A abrir para os Portishead estiveram os A Hawk and a Hawksaw, em formato de quarteto, que cativaram o público com a sua música de leste com raiz húngara. De várias cores e andamentos, se fez o desfile das melodias de inspiração tradicional que o grupo trouxe, ele que colaborou com os Beirut no seu primeiro disco e que certamente não ficaria mal se a estes se juntasse no FMM de Sines.

in Cotonete.

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